Um estudo realizado na Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) busca melhorar o tratamento de pacientes com diabetes tipo 2, uma condição crônica que afeta o processamento da glicose no sangue. O tratamento atual dessa doença envolve o controle da glicemia com medicamentos orais e injetáveis, aliados à prática regular de exercícios físicos e uma alimentação equilibrada.

A Federação Internacional de Diabetes (IDF), que reúne mais de 240 associações em mais de 161 países, estima que a prevalência dessa condição no Brasil seja de 10,5%, sendo a grande maioria do tipo 2. A doença surge quando o corpo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar o nível de açúcar no sangue.

A pesquisa desenvolvida na Unicentro, apoiada pelo governo estadual, visa substituir medicamentos injetáveis por uma formulação oral para pacientes em estágio avançado da doença. Conduzido no Departamento de Farmácia da universidade, o estudo utiliza nanopartículas para proteger as moléculas do medicamento durante a passagem pelo trato gastrointestinal, permitindo uma liberação prolongada do fármaco na corrente sanguínea.

Atualmente, pacientes que não respondem aos tratamentos convencionais precisam recorrer à combinação de insulina e liraglutida, administrados via injeção diária, um processo desconfortável e muitas vezes doloroso. O estudo paranaense propõe um medicamento que combina insulina e liraglutida em forma líquida oral, com as nanopartículas facilitando o transporte dessas substâncias pelo organismo.

De acordo com a coordenadora da pesquisa, professora Rubiana Mara Mainardes, as nanopartículas desempenham um papel crucial ao proteger as moléculas do fármaco do ambiente ácido do estômago e das enzimas digestivas. “Assim como comprimidos e cápsulas transportam moléculas, as nanopartículas, devido ao seu tamanho reduzido e outras vantagens, mostram-se promissoras para melhorar o tratamento desses pacientes”, explica a doutora em Ciências Farmacêuticas.

O projeto conta com financiamento da Fundação Araucária, principal instituição de fomento científico do Paraná, vinculada à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti), além de apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI).

Desenvolvimento e Potencial Impacto

O estudo, conduzido pelo estudante de doutorado Jeferson Ziebarth no Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Unicentro, utiliza uma abordagem baseada em proteínas vegetais, que é mais sustentável, de baixo custo e sem o uso de solventes orgânicos prejudiciais à saúde humana.

Jeferson Ziebarth, mestre em química e bolsista do projeto, destaca a relevância da pesquisa: “Este estudo é significativo porque busca alternativas viáveis para o tratamento oral do diabetes tipo 2, e até agora os resultados são muito promissores”, comenta o estudante.

O estudo envolveu análises das proteínas de milho e soja, que demonstraram eficácia na resistência ao ambiente gástrico, essencial para o transporte seguro de moléculas instáveis como insulina e liraglutida. Esta abordagem oferece uma forma estável de proteção para essas substâncias durante o transporte pelo sistema digestivo.

O próximo passo inclui a finalização da análise dos dados obtidos, preparação de artigos científicos e o desenvolvimento de um protótipo da formulação para futura produção em escala industrial na indústria farmacêutica. A professora Rubiana Mainardes ressalta a importância da pesquisa científica para avanços na saúde: “O desenvolvimento do país depende significativamente da pesquisa científica, e é crucial o apoio governamental para incentivar mais estudantes a se engajarem em diversas áreas do conhecimento”, conclui a pesquisadora.

O objetivo final é patentear essa inovação e disponibilizar o medicamento para pacientes com diabetes tipo 2 no futuro.

 

Informações: Agência Estadual de Notícias