Psicóloga destaca reflexões acerca do processo de luto e algumas formas de prestar apoio durante o luto

Psicóloga destaca reflexões acerca do processo de luto e algumas formas de prestar apoio durante o luto

Publicado em: 2 nov, 2022 às 10:06

O Dia de Finados foi criado para homenagear aqueles que já se foram. A celebração de Finados é muito importante para algumas religiões, principalmente para os católicos, pois se presta homenagem a todos os entes queridos que já morreram.

Neste dia também se tornam importantes reflexões acerca do processo de luto e algumas formas de prestar apoio as pessoas que estão vivenciando uma perda. A Psicóloga Maria Selena Wendler elenca algumas frases comumente ouvidas, ditas com a melhor das intenções, mas que muitas vezes só fazem a pessoa enlutada se sentir pior:

1. “O tempo cura todas as feridas”, mas quanto tempo? O processo de luto é muito
singular e pode ser mais breve ou longo para cada pessoa. É claro que existe o luto
prolongado, no qual esse processo se estende além do saudável e aí é necessário
ajuda, mas de forma geral, não há um prazo de vencimento para o luto.
2. Frases que começam com “pelo menos…”, porque quase sempre são frases que se
completam com uma comparação ou com algo que poderia “amenizar” aquela dor.
Mas não é o que ocorre, a perda aconteceu, a dor está ali, nada substituirá a pessoa
que se foi.
3. “Tudo acontece por um motivo”, é muito natural que nós humanos busquemos
entender o porquê, para talvez pensarmos em coisas que poderíamos ter feito para
evitar a morte daquela pessoa. Porém, isso pode se tornar uma busca infrutífera: a
morte é um fato, acontece com todos e pode não haver uma explicação,
simplesmente aconteceu.
4. “Já faz tempo, está na hora de voltar a viver sua vida”, no mesmo sentido da
primeira, esta é uma frase que pode fazer com o que o enlutado se sinta culpado por
ainda estar sofrendo ou por estar demorando passar, só que nesse processo os
avanços podem ser pequenos, não há como acelerar isso, é preciso viver um dia de
cada vez.
5. “Eu sei o que você está sentindo”, pode parecer uma atitude empática, mas na
verdade estamos presumindo que a dor da outra pessoa é igual à que sentimos.
Ainda que tenhamos passado por um processo de luto, cada um sente à sua
maneira, ninguém pode falar de uma dor que não a sua própria.

Ela comenta que todas essas frases levam a refletir sobre um segundo tópico: a importância de não diminuir a dor do outro. “Por mais bem intencionadas que possam ser, essas frases podem vir a culpabilizar o indivíduo pelo sofrimento que está sentindo, relativizar e invalidar sua dor. E, infelizmente, isso é algo que acontece muito na nossa cultura: comparar o sofrimento humano. “Ah, fulano de tal perdeu a família toda e já está bem” ou “poderia ter sido muito pior, temos que agradecer por estarmos vivos”. Tudo isso dito como se houvesse uma régua capaz de mensurar o sofrimento, a dor, o tempo adequado para chorar a morte de alguém. Mas não há, e a Psicologia já fala disso há algum tempo… tanto que na clínica, podemos receber vários pacientes com um mesmo problema, mas cada um lida e sente de formas diferentes e também por isso a maneira de intervir é distinta e adequada a cada indivíduo”, comentou a Psicóloga.

Maria Selena destaca que lidar com o sofrimento do outro não é simples, e é importante, antes de tudo, se atentar até onde se pode ajudar, para não acabar tomando para si todas as dores do outro. “Se você perceber que está fora do seu alcance, encaminhe essa pessoa para buscar ajudar de um profissional capacitado: seja uma psicóloga ou um psiquiatra”, disse.

A Psicóloga elencou algumas coisas que se podem ser feitas  para prestar apoio a alguém
nesses momentos:

Apenas ouvir, sem dar conselhos, palpites ou julgar. Se você não souber o
que falar, não diga nada. Nem sempre as palavras serão suficientes.
Ajude a pessoa a ir retomando a rotina, no ritmo dela. Convide para sair,
conversar ou viajar, mas não pressione. Nos primeiros dias, é natural que
seja difícil fazer até as coisas mais básicas, por isso respeite o ritmo dela.
Validar as emoções negativas que a pessoa está sentindo. Muitas vezes
temos a tendência de suprimir a raiva, a tristeza, o medo, o desamparo. Mas
é importante se permitir sentir, emoção é energia e precisa ser colocada pra
fora de uma forma saudável, se guardamos isso por muito tempo, uma hora
a carga pode ficar pesada demais para carregar e vamos estourar.
Ajude essa pessoa a buscar auxílio profissional se perceber que ela está
tendo muita dificuldade em vivenciar o próprio luto ou se esse luto se
prolongou de forma a impedir que a pessoa fosse retomando sua vida. Tem
coisas que só um profissional com o conhecimento adequado será capaz de
ajudar.

A Psicóloga finaliza a reflexão deixando uma dica de leitura e também uma frase de um livro chamado “A morte é um dia que vale a pena viver” da Dra. Ana Claudia Quintana Arantes: “Quando morre uma pessoa amada e importante, é como se fossemos levados até a entrada de uma caverna. No dia da morte, entramos na caverna, e a saída não é pela mesma abertura por onde entramos, pois não encontraremos a mesma vida que tínhamos antes. A vida que será conhecida a partir da perda nunca será a mesma de quando a pessoa amada estava viva. Para sair dessa caverna do luto é preciso cavar a própria saída. Por isso dizemos que existe um trabalho, algo ativo, construído em direção a uma nova vida. Cavar a saída da caverna do luto demanda ação, força, esforço. E as pessoas enlutadas sentem um cansaço intenso, existencial e físico. Não é possível convocar alguém para entrar conosco nessa caverna e cavar a saída para nós. A reconstrução da nossa vida, ou seja, o reencontro com o sentido dela a partir da perda de alguém muito importante, se dá ao longo do processo de luto. (p. 179″, descreveu a profissional.
Texto: Andrea Borges
Foto enviada pela entrevistada