Historiador fala sobre a Escravidão e como Palmeira vivenciou esse período da história

Historiador fala sobre a Escravidão e como Palmeira vivenciou esse período da história

Publicado em: 13 maio, 2022 às 8:16

O dia 13 de maio tem uma grande importância no Brasil, pois nessa data, em 1888, foi assinada a Lei Áurea, que aboliu a escravidão. Com a assinatura dessa lei, aproximadamente 700 mil escravos foram libertos de sua condição. Muitos destes em nosso município.
O historiador Palmeirense, Paulo Taufer,  Assessor de Cultura e Turismo da Prefeitura Municipal, fala sobre a relação da sociedade palmeirense com a prática escravista. “Sim houve escravidão, amplo uso do trabalho escravo em Palmeira, isso a gente está falando desde as fazendas de gado, das fazendas ligados ao tropeirismo com uma certa quantidade de pessoas sendo usadas em trabalho cativo, quando também no trabalho cotidiano doméstico. Então, em certo momento, por exemplo, no Brasil Imperial em algumas cidades era comum que praticamente todas as pessoas brancas tivessem pelo menos um escravo doméstico por conta. Pegando aqui o que a gente teria no museu, a gente tem uma documentação muito importante que vai falar exatamente  desse início, dessas lutas abolicionistas, inclusive falando das políticas de emancipação que estavam sendo feitas, que é muito anterior a 1888, inclusive as lutas abolicionistas falando brevemente sobre a resistência negra contra escravidão. No nosso museu nós temos uma documentação, que demonstra a quantidade de escravizados que nós tínhamos, então ali por volta de 1868 para efeito de comparação Palmeira deveria ter uma população de escravos  comparada a população de escravizados de Curitiba, de Ponta Grossa, de Castro e da Lapa. Então, Palmeira ficava atrás apenas  de Paranaguá, que na época era a principal cidade da província, rivalizando então com Castro, Ponta Grossa, Lapa em números totais  de pessoas escravizadas”, explicou.
Paulo conta que no Museu Histórico Astrogildo de Freitas, existem documentos da época, inclusive que trazem nomes de escravos além de outros documentos sobre o tema. “Temos uma documentação muito interessante sobre o nome  de alguns desses escravizados, o que eu acho muito relevante para que a gente demonstre que se tem nomes e sobrenomes, são pessoas que constituíam famílias, então  o escravo vai além de apenas um número, apenas uma abstração que ficou no passado, eram pessoas de fato de carne e osso, que são antepassados de muitos palmeirenses, provavelmente, e que tem o seu nome registrado em alguns documentos no nosso museu, em citações de livros produzidos na época, que vão falar dos tropeiros, inclusive alguns ligados a nobreza, então o Barão de Tibagi, Jesuíno Marcondes, pessoas muito proeminentes na política paranaense e brasileira que tinham escravos, porque como eu falei, era algo naturalizado,  quando você tem o poder, você tem o poderio econômico, isso se reflete na quantidade de escravos que você vai ter na sua propriedade, porque a pessoa escravizada ela não tem direito a liberdade, portanto, ela é posse de uma outra pessoa”, contou Paulo.
Uma dúvida frequente sobre o Solar do Jesuíno, hoje local que abriga o próprio Museu, seria se ali existia uma senzala. O historiador explicou que não há indícios conclusivos de haver uma senzala no local, mas afirma que tanto na casa como na redondeza do palácio, haviam outras pequenas casas onde abrigariam os escravos. Ele comenta também sobre outros dois bairros da cidade onde existiam moradas dos escravos. “Há sim toda a discussão se no subterrâneo, no último piso do museu, foi uma senzala ou não, sobre isso a conclusão que nós chegamos é que não havia uma senzala propriamente ligada  ao solar dentro da estrutura, ali poderia ser um porão mesmo, era um subsolo mesmo, não existe evidência física que de fato fosse uma morada para escravizados, para pessoas viverem como se fosse uma senzala. Claro, deveriam haver escravizados morando na casa, no ambiente doméstico, inclusive  pro lado de fora, enfim, pequenas casas ao redor da solar, daquele complexo todo do parque do museu, pois ali tudo era de fato parte da propriedade da casa. Inclusive tinham regiões na cidade, pequenas vilas ali, conjuntos de casas, que eram só para escravizados, então era um gueto de fato, havia todo um complexo também de utilização de mão de obra escravizada, inclusive com pessoas morando em pequenos guetos próximo de onde hoje seria o Jardim Cristine, o chamado ‘rocio da forquilha’,  assim como existe hoje o bairro do rocio e do monjolo,  nessas regiões deveriam haver ali pequenos guetos  de acomodação mesmo, em que algumas famílias escravizadas viviam por ali e, claro,  no dia seguinte se apresentavam para o trabalho na casa dos seus donos”, finalizou.

Texto: Andrea Borges e Rinaldo Agottani
Fotos: Acervo Museu Histórico de Palmeira / Vaso em cerâmica produzido por mão de obra escravizada.