Em entrevista sobre Setembro Amarelo, Padre Adriano aborda sobre tabu, sociedade do espetáculo e espiritualidade

Em entrevista sobre Setembro Amarelo, Padre Adriano aborda sobre tabu, sociedade do espetáculo e espiritualidade

Publicado em: 1 set, 2022 às 15:03

Teve início no Noticiário P7 desta quinta-feira (1°) as entrevistas semanais em alusão ao Setembro Amarelo. Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), organiza, em território nacional, o Setembro Amarelo. Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha!”.
De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 2019, são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, pois com isso, estima-se mais de 01 milhão de casos. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia.
As entrevistas produzidas pelo Jornalismo da Ipiranga FM irão ao ar às quintas-feiras a partir das 11h20. Neste primeiro dia, a participação no Noticiário P7 foi com psicólogo e padre Adriano da Levedove. A entrevista pode ser conferida através do Facebook da emissora.
“Tabus, gatilhos e sinais” foi o tema abordado pelo psicólogo. Ao citar o  psiquiatra Humberto Corrêa, Presidente da Comissão de Estudos e Prevenção ao suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria e  também representante do Brasil na Associação Internacional de Prevenção ao Suicídio, Padre Adriano lembra que suicídio é tido como um assunto proibido e que não temos grande cobertura por parte da mídia que na maioria dos casos acredita erroneamente que abordar o assunto incentivaria mais suicídios. “Não existem hoje no Brasil campanhas saúde pública para tratar o tema, segundo o Doutor Humberto. Nosso país hoje ao contrário de outros, ainda não tirou do papel a sua estratégia nacional de prevenção ao suicídio. Veja, o tabu é quando sabemos da existência de um problema e nós não discutimos ele abertamente. Nós não o estudamos, nós não o pesquisamos, isto é, nós o jogamos pra debaixo de um tapete”, disse o psicólogo.
Na entrevista, Padre Adriano enfatizou a importância de ler, pesquisar e assim buscar em fontes seguras e confiáveis informações sobre o assunto. E reforçou o cuidado que se deve ter ao querer aconselhar uma pessoa que está fragilizada. “Não dá pra chegar pra uma pessoa que tem ideações suicidas ou que tentou e dizer “não faça isso, você tem tudo na vida”. A pessoa pode até ter tudo, mas está sentindo um vazio no seu coração. Falar “pare de pensar nessas coisas bobas. A vida é muito bonita”; você não está na condição daquela pessoa que está sofrendo com um transtorno mental. Pesquisem antes de falar, para não achar que estão arrasando com conselhos que na verdade estão desmotivando ainda mais as pessoas”, pontuou ele.

Abordagem do assunto
“Nós vivemos hoje numa sociedade do espetáculo, onde as pessoas ao invés de socorrer feridos de um acidente de carro, ficam filmando aquelas pessoas agonizando na sua dor. Isso é a sociedade do espetáculo; ao invés de eu agir pra salvar vida, eu filmo com a intenção de ganhar seguidores”, disse Padre Adriano ao iniciar a reflexão sobre de que maneira a abordagem sobre suicídio deve ser feita. “Eu dei a notícia da tragédia primeiro. A sociedade do espetáculo é sensacionalista, ou seja, ela demonstra um egoísmo nunca visto antes. Onde não se quer passar a notícia, não é essa a intenção. Mas criar um espetáculo em torno dela”, continuou ele.
“Hoje a multidão se coloca em volta daqueles que estão brigando com os seus celulares nas mãos pra filmar, postar e ganhar seguidores diante da desgraça alheia. É revoltante isso. Porque é exatamente isso também que nós encontramos aqui em nosso município de Palmeira. Postar em seus Instagram’s, em suas redes sociais, enfim, a dor e o sofrimento de outros. (…) Fotos e vídeos, entre outras coisas postadas por pessoas que em nada se importam com aqueles que cometeram suicídio, mas que estão buscando seguidores para inflar os seus egos psicóticos”, reforçou o psicólogo ao esclarecer, que sim, é importante falar sobre o assunto, mas não transformar um suicídio em um espetáculo, banalizar o assunto.
Em sua participação, o padre também foi enfático ao falar que não nos cabe saber o porquê aquela pessoa tomou essa decisão. “Não queiram entrar na mente daqueles que já partiram. Os motivos e razões foram com ele. Nos cabe orar, rezar e acolher os familiares”, destacou.

Espiritualidade
Para encerrar a entrevista, uma frase que sempre vem a tona quando se fala em suicídio foi indagada ao psicólogo: “Suicídio é realmente falta de Deus?”. Na condição de profissional da saúde, sacerdote e Pároco, Padre Adriano foi enfático ao afirmar que “Não. Não é falta de Deus. Essa pergunta tem que ser banida do nosso vocabulário. Pois desde o início que estou aqui, tenho falado que é resultado de um longo processo de fracassos somado a doenças mentais e também a sentimentos autodestrutivos. Talvez o que falte é uma espiritualidade que ajude amenizar a culpa pois ainda hoje, os olhares sobre a os que estão doentes ou aqueles que tem ideações suicidas é o de que ele está cometendo um pecado. Quando na verdade ele é vítima de uma doença. Aí se recordem: O papel do psiquiatra, do médico é amenizar a dor física. O papel do psicólogo amenizar os conflitos internos. O papel da religião, do padre, do pastor, amenizar o sentimento de culpa”, refletiu o profissional.
Destacando a importância da espiritualidade em nossas vidas, ao final de sua participação, Padre Adriano compartilhar uma iniciativa da Paróquia que está sendo iniciada com objetivo de esperançar dias melhores. Neste mês de setembro, todos são convidados a participar do Santo Terço todos os dias na Igreja Matriz. De segunda a sábado às 19h e aos domingos 18h30. Às comunidades do interior são convidadas a realizar o mesmo em suas capelas.

Texto: Bruna Camargo
Foto: Ipiranga FM