Em alusão a campanha Maio Furta-Cor, psicóloga destaca importância da saúde mental materna

Em alusão a campanha Maio Furta-Cor, psicóloga destaca importância da saúde mental materna

Publicado em: 22 maio, 2023 às 15:05

Maio é o mês que se comemora o dia das mães, momento oportuno de discutir causas maternas. Maio Furta-Cor é uma campanha que visa sensibilizar a população para a causa da saúde mental materna.

Furta-Cor é uma cor cuja tonalidade se altera de acordo com a luz que recebe, não tendo uma cor absoluta. No espectro da maternidade não é diferente, nele cabem todas as cores.

A preocupação com a saúde mental da mãe é algo que vem ganhando destaque há pouco tempo, mas nem por isso deixa de ser extremamente necessário.

A psicóloga Maria Selena Wendler falou à Ipiranga FM sobre a importância do tema e de uma campanha para destacar o assunto. “Campanhas como esta são importantíssimas porque trabalham em prol da visibilidade de uma causa que tem sido deixada de lado. A Saúde Mental de forma geral é tratada com estigma e até mesmo menosprezada e, quando falamos de adoecimento mental materno isso também acontece. A pandemia de Covid-19 promoveu o aumento de casos de transtornos depressivos,ansiosos, burnout e suicídio na população geral e também nas mães. Portanto, o que essa Campanha promove é dar visibilidade para um sofrimento que não é validado. E com isso, também fazer com que as mães se sintam acolhidas, que o sofrimento delas é relevante, sim, e que elas merecem receber todo apoio e cuidado necessários. Ao falarmos sobre esta temática, então, esperamos que algo seja feito, tanto a nível de políticas públicas ou na nossa família”, comentou a profissional.

A romantização da maternidade, ou seja, ignorar as dificuldades, desafios e até mesmo demandas das fases deste período, prejudica o debate sobre o tema. A psicóloga lembra que a mãe amar o filho e sentir realizada com a maternidade são coisas diferentes. “É certo que o amor materno é algo belo e singular, disposto a muitas coisas e que o vínculo que o bebê desenvolve com a mãe é o primeiro e o mais importante nos primeiros meses. No entanto, o mito do amor materno pode promover um desserviço para a saúde mental da mãe. Ele promove a ideia de que o amor de mãe suporta tudo, deve se sacrificar sempre sem reclamar e que a maternidade, por si só, te tornará uma mulher plenamente realizada e feliz. A visão cultural da maternidade pode ser descrita como algo que transforma a mulher numa “entidade”, por assim dizer, da qual se espera um cumprimento exemplar do papel. Não há espaço para sofrer, não há espaço para questionar, não há margem para erros. Viver sob tamanha pressão é desgastante. Porém, ser mãe muitas vezes envolve sentimentos ambíguos. A mãe pode amar seu filho e, ainda assim, não se sentir realizada com a maternidade. E, ao se darem conta disso, muitas mães se culpam, sentem vergonha ou acham que seu sofrimento não é digno de ser ouvido. Além disso, podemos citar a autocobrança materna por não estar sendo boa o suficiente, por não estar dando conta de tudo, por não estar conseguindo aliviar as dores do filho… Isso somado à uma certa perda da própria identidade, porque para todos os efeitos
agora você é mãe e, para a sociedade, isso diz praticamente tudo sobre quem você é”, destacou Selena.

Maria Selena também orienta de que forma as pessoas (família e amigos) podem contribuir com a saúde mental materna:

1. Acolher sem julgar, apenas ouvir, se colocar ao lado dessa mãe com empatia;
2. Oferecer suporte e apoio – você não precisa dar conselhos, talvez o que essa mãe
mais necessita é ser ouvida e saber que tem pessoas com as quais pode contar.
3. Auxiliar e incentivar essa mãe a buscar ajuda profissional;
4. Se você é marido, não deixe que todas as atividades domésticas e da criação do
filho recaiam sobre sua mulher; é necessário dividir tarefas e não apenas “ajudar”

O maternar é um processo. Se seu filho tem dois meses, você tem apenas dois meses como mãe. Logo, ninguém se torna mãe do dia para a noite e entender isso é a chave para lidar com sentimentos como cobranças, culpa, medos, incertezas e inseguranças. Ter uma rede de apoio e na medida do possível praticar atividade física e buscar ter um sono regular também contribuem para que a mãe cuide mais de si. “O mais importante para que a mulher consiga administrar seus sentimentos, é entender que maternar é um processo que vai se construindo, com erros e acertos, ninguém se torna mãe do dia para a noite. Dar à luz é só uma parte do processo. Não há um único jeito de ser mãe, não compare seu processo com o de outras mulheres porque nunca será uma comparação justa, cada uma tem suas dificuldades e questões diferentes para lidar e superar. Também é saudável buscar cuidar de si, na medida do possível, se alimentando bem, fazendo atividade física e um sono regular. No entanto, sabemos que isso nem sempre é possível sem uma rede de apoio que te dê suporte, por isso tenha pessoas com as quais contar, que possam te ajudar a carregar toda essa carga da maternidade. O autocuidado é importante, mas não deve se tornar mais uma fonte de autocobrança. Você não vai dar conta de tudo e você pode se permitir deixar coisas de lado sem culpa, só importa observar que não seja sempre você a ser deixada de lado. Para cuidar bem dos outros também é preciso cuidar de você”, disse.

A psicóloga também explicou quando a mãe pode procurar ajuda profissional, enfatizando que tomar essa iniciativa não é demérito nenhum, muito pelo contrário, mostra auto cuidado e um meio de lidar com tantos desafios. “A mãe não precisa esperar o surgimento de um transtorno mental para buscar ajuda. Se há dificuldade para lidar com emoções, com questões relativas à maternidade e para organizar a própria vida, a terapia sempre pode te ajudar. Pedir ajuda não te faz um fracasso como mãe, mas te lembra que também merece receber apoio, conforto e ajuda”, explicou.

“Se importe com a mãe, assuma esta causa” este é o slogan da campanha que destaca, portanto, a importância de falarmos sobre o assunto e o papel da sociedade no cuidado com a mãe.

Texto: Bruna Camargo

Foto enviada pela entrevistada