Noticiário P7 2ª edição aborda o protagonismo da mulher agricultora
A presença da mulher na agricultura tem se tornado cada vez mais essencial para o desenvolvimento do setor.
Especialmente através da agricultura familiar, responsável pela produção de 7 a cada 10 alimentos para o abastecimento da mesa da população em geral, a mulher tem assumido o merecido papel de protagonista, sendo muito mais que ajudante.
O tema foi assunto do Noticiário P7 2ª Edição que teve a participação das agricultoras Roselaine Barausse da localidade de Guaraúna de Tocas e Ana Lucia Sacinger Iantas da localidade do Benfica, que atualmente é Secretária Geral do Sindicato de Trabalhadores Rurais do município.
Durante a entrevista, elas explicaram que o número de agricultores(as) familiares é estimado pelo Sindicato através da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Porém, o documento na maioria das vezes está no nome do esposo, o que dificulta saber dados mais precisos sobre a mulher no campo.
Apesar disso, na agricultura familiar, cerca de 45% dos produtos são plantados e colhidos por mulheres, conforme informações do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Essa maior participação impacta tanto na valorização do seu trabalho, como também no aumento da renda familiar, como aponta a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) sobre a importância da mulher no campo.
Ana Lucia contou que sua família trabalhou por anos com a leiteria e que atualmente se dedicam a produção de morangos e uvas, além da agroindústria. “Era um trabalho bem puxado. Tenho certeza que tem várias mulheres que trabalham neste ramo. Hoje em dia trabalhamos com o morango e também fazemos a transformação; fazemos bolachas, geleias, licores e o suco de uva, pois inclusive, também temos a plantação de uva”, relatou.
Ao contar sobre sua rotina e trajetória, a produtora destaca o orgulho que sente por através do trabalho no campo possibilitar a formação das filhas. “Quando tínhamos a leiteria era eu, meu marido e nossas três filhas que também ajudavam. Agora sou só eu e meu marido, porque elas já se formaram e casaram. Saiu tudo da lavoura. É um orgulho para nós dizer que foi do nosso trabalho, da leiteria, da plantação de morango, das transformações dos alimentos, foi de lá que saiu o dinheiro para elas se formarem”, relata a agricultora.
Os vários papéis da mulher no campo foram abordados durante a entrevista. “Eu até brinco: Nós fazemos todo o trabalho em casa, mas quem leva fama é o marido. E agora nesta época de pandemia, as mães tem que ter um pouquinho de força a mais para ajudar os filhos nas tarefas da escola. As crianças estão em casa e estão precisando muito e quem geralmente que está ali? É a mulher, a mãe”, comentou a entrevistada.
Além disso, ela também lembrou que a rotina no campo exige dedicação não apenas com a produção da principal renda. “Como todo interior tem as galinhas, os porcos, tem bastante serviço”, disse ela.
Ao falar sobre a agroindústria, Roselaine contou que este foi o caminho encontrado por muitas famílias do campo. “Como as propriedades não são grandes, fazemos várias coisa para se obter a renda. Nós plantamos lá e vimos a necessidade da transformação para agregar valor ao produto. Muitas vezes para nós agricultor(a) familiar falta onde armazenar, às vezes o comércio é difícil e acabamos perdendo produto no meio do caminho. A partir desta necessidade hoje temos uma agroindústria de transformação de produtos em farinhas. Hoje produzimos cinco tipos em farinhas na propriedade e até envasamos para o consumidor final”, contou ela. São produzidas pela família de Roselaine farinhas de ora-pro-nóbis, cúrcuma (açafrão da terra), açafrão, inhame e batata doce.
Ainda sobre a transformação dos produtos, a produtora lembrou que a comercialização acaba sendo um “grande gargalo” da agricultura familiar. “Acabávamos perdendo esses produtos. Porque produzir, nós produzimos bem”, ressaltou.
De acordo com o Censo Agropecuário de 2006, as mulheres são responsáveis por 16% dos estabelecimentos rurais do nível familiar.
A inserção das agricultoras em pesquisas como a do Censo Agropecuário constitui um avanço significativo para a representatividade feminina. Através de dados como este é que são desenvolvidas, por exemplo, abertura de crédito específico para as agricultoras.
Essa maior participação da mulher em administrar a propriedade em conjunto com o marido também foi destacada por Roselaine. “A mulher sempre esteve no trabalho da propriedade, sempre foi para a roça, sempre cuidou dos filhos e também tem que administrar senão nós não conseguimos sobreviver. Hoje essa realidade tá mudando aos poucos, graças a conquista das mulheres que estão ocupando o seu papel na propriedade. Antes ficava só para o marido resolver as “papeleiras”, hoje a mulher pega o carro, vem ao banco e ajuda também a administrar. Isso desde comprar um implemento, agregar mais valor aos produtos e estar ali decidindo e fazendo a conta de preços”, disse a agricultora.
A importância de cursos, programas e demais atividades de formação para as mulheres através de uma entidade representativa como o Sindicato de Trabalhadores Rurais também assunto no Noticiário P7 2ª Edição.
São espaços de ensinamento, aprendizado, confraternização e empoderamento da mulher, que além de reconhecer o seu protagonismo, passa a contribuir ainda mais e de diversas formas para o crescimento da propriedade rural, de sua família e consequentemente, da comunidade.
Texto e foto: Bruna Camargo
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